O casal preso após denúncias de supostas torturas a crianças de uma creche, no Centro de Sorriso, foram libertados após os advogados Carlos Koch William Puhl impetrarem com um Habeas Corpus no TJMT e ser deferido.
O tribunal impôs algumas medidas cautelares para serem cumpridas pelos investigados, como comparecer a Justiça em cada etapa do processo sempre que solicitado, eles também estão impedidos de manter contato com as vítimas ou testemunhas e não deixar o município de Sorriso sem autorização judicial.
M.D.C.D.O.L. de 48 anos, e A.L., de 45 anos, foram presos em virtude de mandado de prisão preventiva cumprido pela equipe do Núcleo de Violência Doméstica da Delegacia de Sorriso e foram indiciados pela Polícia Civil por quatro crimes: tortura e castigo; ameaça; maus-tratos; e omissão perante à tortura. A investigação apurou denúncias de maus-tratos, tortura mediante castigo e omissão cometidos pelo casal contra oito crianças de 0 a 5 anos, faixa etária atendida pelo berçário e hotelzinho infantil.
Uma das mães ouvidas pela delegada Jéssica Assis contou que houve mudanças de comportamento em seu filho, como retração, dificuldade na fala, e que ele colocava as mãos no rosto quando alguém se aproximava dele, com medo, após ser agredido em uma creche, em Sorriso. O casal, dono do local, foi preso no dia 14 de abril.
Conforme a Polícia Civil, foram ouvidos 17 pais e responsáveis legais por crianças que foram atendidas na creche. Uma mãe contou que seu filho já voltou com a boca cortada da creche e houve mudanças de comportamento no filho, como retração, dificuldade na fala e colocar as mãos no rosto quando alguém se aproximava dele, fechando os olhos, como se estivesse prestes a ser agredido.
A mãe de outra criança afirmou que seu filho ficou com ferimentos depois de um episódio em que teve a boca cheia de areia pela dona da creche.
A mulher contou também que o menino ficou com trauma, já que quando passando em frente à creche, o menino grita: ‘Não, não, não’ e se joga para baixo do banco do carro. Em certa ocasião, quando a criança ainda frequentava o berçário, ele chorou copiosamente ao chegar ao local.
A Polícia Civil também apurou que o casal procurou mães que denunciaram as agressões na tentativa de manipular, dissuadir e intimidar. Diversas testemunhas relataram ameaças pelo marido da dona da creche.
“As investigações devem continuar, inclusive, porque diversas mães entraram em contato com a delegacia manifestando interesse em serem ouvidas”, explicou a delegada, acrescentando que a maioria das pessoas foram ouvidas após a prisão do casal, o que se mostrou necessário diante da intimidação feita pelos investigados.
Torturas
Dois episódios relatados no inquérito chamaram a atenção da Polícia Civil durante a investigação, cometidos contra duas crianças que ficavam no berçário. Em um deles, a proprietária do local teria esfregado a calcinha e fralda sujas de fezes no rosto das vítimas, a fim de puni-las por defecarem e doutriná-las conforme seu método. Outro relato aponta que uma criança autista foi obrigada pela dona do berçário a comer areia, quando ela forçou um punhado de areia na boca da menor.
Outros relatos apontaram sufocamentos, mordidas, tapas e puxões de orelha conforme narraram as cuidadoras ouvidas na delegacia. Foram diversas sessões de tortura contra um bebê de um ano de idade, que era amarrado pela dona do berçário a um toco, com um cinto, e deixado debaixo do sol por horas, até chorar e adormecer sentado.
Em outra situação narrada à Polícia Civil, uma criança do sexo feminino, de quase dois anos de idade, sofreu violência quando foi imobilizada para que parasse de chorar. A investigada colocou o joelho no peito da criança como tentativa de fazê-la parar de chorar, na presença de várias crianças da creche.
Um depoente ouvida na delegacia relatou que em uma das situações, a dona do berçário jogou água com uma mangueira no rosto de um bebê. Vários relatos apontam o uso de mangueira contra as crianças, em situações e períodos distintos. Uma testemunha disse que havia severas restrições ao uso do aparelho celular no local e que nunca contou os fatos a ninguém porque achava que não acreditariam nela sem filmagens ou fotos.
Uma testemunha que trabalhou como ajudante nos cuidados com as crianças contou que bebês de seis a nove meses eram deixados sozinhos no berço, com mamadeiras na boca, e as cuidadoras eram proibidas de pegá-los no colo para alimentar. As crianças eram chamadas de ‘porcos, nojentos, sebosos, mortos de fome’.
A dona do local tirava comida da panela e não esfriava para as crianças e bebês passavam o dia todo sem trocar de fralda. Já o dono da creche foi relatado que ele puxava as crianças pelas orelhas e as colocava de castigo, sentadas em um canto.
Uma testemunha foi intimidada pela investigada que disse se a denunciasse, saberia que foi ela. A testemunha pediu demissão por não aguentar presenciar o sofrimento das crianças.