Principal facção criminosa em Mato Grosso, o Comando Vermelho está presente em todos os 142 municípios, revela um estudo ao qual o Jornal A Gazeta teve acesso com exclusividade. Chama a atenção o crescimento da organização criminosa no Estado, que é braço independente da facção que nasceu no Rio de Janeiro. O CVMT deu seus primeiros passos em solo matogrossense no ano de 2012, quando Sandro da Silva Rabelo, o “Sandro Louco”, retornava do presídio federal e, desde então, a facção está arregimentando novos membros.
Em 2020, a facção estava em 51% das cidades mato-grossenses, ou 72 municípios. Em 2021, passou a ocupar 104 municípios, correspondente a 73% e, em 2022, já estava em 81%, ou seja, 115 municípios. Neste intervalo de três anos, dobrou o número de cidades com a presença da organização criminosa, passando, em 2023, a ocupar todo o Estado. Os dados foram citados pelo juiz Anderson Clayton Dias Batista, durante curso Lei de Drogas Aspectos Jurídicos, Político-Criminal e Prático.
Conforme o magistrado, o combate às organizações criminosas exige uma resposta abrangente e multifacetada pela combinação de ações em três eixos estratégicos: o sistema prisional; combate à lavagem de dinheiro com a descapitalização das organizações e, por fim, as ações de segurança pública. Batista pondera que o sistema prisional é um ponto crítico no combate às organizações criminosas, uma vez que muitas delas nascem e se fortalecem dentro das penitenciárias. Ele alertou ainda para a infiltração das facções criminosas em diferentes áreas da sociedade.
Foi de dentro do maior presídio de Mato Grosso, a Penitenciária Central o Estado (PCE), onde ainda permanece preso, que Sandro Louco, em conjunto com Miro Arcângelo Gonçalves de Jesus, Renildo Silva Rios Divulgação Em 2020, a facção estava em 51% das cidades matogrossenses, ou 72 municípios; em 2023, passou a ocupar todo o Estado CVMT deu seus primeiros passos em solo mato-grossense no ano de 2012, quando Sandro da Silva Rabelo, o ‘Sandro Louco’, retornava do presídio federal e Renato Sigarini, criaram o estatuto do Comando Vermelho e organizavam os primeiros “batismos”. Antes, Sandro Louco era do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção paulista, porém passou a captar criminosos para criar o braço do Comando Vermelho em Mato Grosso. Com cerca de 13 anos no Estado, a facção continua a agir e comandar ordens de roubos, assassinatos e outros crimes, mesmo com os maiores líderes estando dentro dos presídios.
Dados revelados em reportagem do Jornal A Gazeta na edição do dia 06 de outubro de 2025 confirma que em 2014, quando deflagrada a operação “Grená”, que trouxe à tona os principais nomes do CV, a facção tinha 450 membros. Mesmo com as lideranças presas, inclusive os fundadores, o número de soldados continuou crescendo, passando para 2,5 mil em 2017. Em 2018, a Polícia Federal já trazia o número de 7 mil filiados e, atualmente, segundo o desembargador Orlando Perri, são pelo menos 33 mil membros.
Pesquisador Sênior do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), Aiala Couto frisa que as políticas de segurança pública apresentadas ao longo de 30, 40 anos, não ajudaram a resolver o problema do crime organizado. Pelo contrário, segundo Couto, a política de encarceramento em massa fortaleceu a presença das facções no sistema prisional, bem como contribuiu para que esses grupos pudessem se expandir a partir do sistema prisional para outros estados, outros municípios e outras regiões.
“É preciso repensar não apenas a questão que envolve as políticas públicas direcionadas para atingir a juventude, as pessoas vulneráveis, a cidadania, mas também repensar a própria política de segurança pública no que diz respeito ao combate ao crime organizado ou a guerra às drogas, porque ela está criando uma fissura social que está empurrando uma parte da população vulnerável, sobretudo da juventude, para os braços do crime organizado. Isso é preocupante”, comenta Aiala, que também é Geógrafo e Pesquisador da Universidade do Estado do Pará e do Instituto Mãe Crioula.
O pesquisador falou ainda sobre o crescimento da presença das facções criminosas em estados da Amazônia Legal, destacado pelo 4ª edição do estudo Cartografias da Violência na Amazônia e publicado na edição de 20 e 21 de novembro do Jornal A Gazeta, dando início à primeira reportagem da série “Poder Paralelo, Até Quando?”.
Conforme o levantamento, Mato Grosso tem seis municípios entre os 20 mais violentos, sendo Vila Bela da Santíssima Trindade, a primeira capital de Mato Grosso, o posto da cidade com a mais elevada de mortes violentas da Amazônia Legal com crescimento de 250% nos últimos três anos. Nobres, Alto Paraguai, Barra do Bugres, Aripuanã e Sorriso integram a lista dos mais violentos. “Essas cidades sofrem com conflitos de facções pelo domínio do crime organizado”, reforçou.
